Arthur (este não é o seu nome real) era um visionário, resolveu abrir em Porto Alegre um estabelecimento digno da alta sociedade parisiense, uma pastelaria chiquérrima. O local ficava no bairro Moinhos de Vento onde hoje é o Hotel Sheraton, (ao lado do Shopping) e o seu público era predominantemente gay. O nome era perfeito: Chez Pastel, o que soava francês chic para a porção culta da cidade e para os enrustidos dava noção de "tchê pastel" (cosa de macho).
O lugar era ótimo, iluminação discreta, velas em todas as mesas, serviço eficiente, tão perfeito que até hoje não há igual na cidade. Realmente era um lugar à frente de seu tempo.
O principal atrativo da casa, além da cozinha envidraçada com cozinheiros fortes, másculos e sem camisa, era – obviamente- o pastel. Mas não era um pastel comum, era o Pastel Rosa! Receita secreta que o Arthur nunca revelou a ninguém, sabia-se apenas que usava beterrabas na massa para dar aquele tom aos seus pastéis.
Eram mais de 50 sabores, havia pastel de caviar, champignon, damasco com gorgonzola, açafrão, trufas, ... Só não tinha pastel de carne (pois é o único pastel de macho). Apesar do pastel de Tomate Seco fazer muito sucesso, o mais vendido era o imbatível Pastel Rosa de Salmão, todos sempre acompanhados de uma ótima carta de vinhos brancos, rosés, espumantes e champagnes. "– O bouquet do vinho tinto e a acidez dos taninos polimerizados não combinam com os meus pastéis."
O lugar era maravilhoso, estupendo, podre de chique, perfeito.... mas não para Porto Alegre. As bichas entravam eufóricas, berravam ao ver a cozinha envidraçada, soltavam agudos para chamar o maitre (um bonitão francês legítimo), enfim, tentaram transformar o lugar em um rendez-vous. O Arthur, a cada dia mais stressado, surtava com aqueles "bárbaros".
"– Esse povo não tem a menor classe, estão na Idade das Trevas! Aliás, essa cidade é medieval, não está preparada, vou ter que fechar." Me confessou irritadíssimo antes de vender o local e se mudar de vez para a França na companhia do maitre Paulon.
Hoje o Chez Pastel funciona em Paris, em uma ruazinha ao lado do Museu do Louvre, com vista para o Sena, e o Arthur está feliz da vida. Só fecha a cara quando aparece por lá algum grosso de Porto Alegre e pergunta se ele não é aquele....
4 comentários:
Hahahahaha, mtu bom!
Dei altas gargalhadas imaginando todas essas coisas que tu presenciou... Presenciou??
O Arthur tem acesso ao teu blog??
A propósito: eu nunca comi pastel lá... Isso é verdade??
Muito bom o teu conto!!!! Mas eu trocaria o título para "Pastel Rosa". Deixaria mais no imaginário de quem vai ler...
Hahaha!
Ficou tri o pastel na mão do "Arthur", em plena Cidade Luz!
Quanto ao conto, c'est magnifique!
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